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domingo, 28 de outubro de 2012

Vai queimar o que agora?



"De que adiantou queimarmos sutiãs em praça pública em busca de liberdade se passamos a ser prisioneiras da opinião alheia, se nos deixamos massacrar pelas capas de revistas 'photoshopadas'?".


Foto: Acervo Tati Gaião


Os movimentos que buscam direitos igualitários entre homens e mulheres, que visam exterminar a opressão em que o sexo feminino sempre viveu e, principalmente, pela liberdade feminina, vêm de longa data. E um dos protestos mais marcantes foi a famosa ‘queima de sutiãs’, em 1968, em Atlantic City, EUA.

Todos estes engajamentos pelas militantes e as transformações culturais e econômicas deram-nos acesso à pílula anticoncepcional e o poder de decidir com qual e com que frequência vamos pra cama com um homem. Saímos para o mercado de trabalho e hoje somos maioria nos bancos das universidades e pós-graduações. Passamos a prover nosso lar, a dividir a conta do restaurante com o namorado e as despesas de casa com o companheiro. Porém, diante de toda essa liberdade e independência, acabamos nos deixando ser oprimidas. Desta vez, pelos conceitos rígidos de uma beleza inalcançável que tem freado e reprimido possibilidades gigantescas de realizações pessoais.
De que adiantou queimarmos sutiãs em praça pública em busca de liberdade se passamos a ser prisioneiras da opinião alheia, se nos deixamos massacrar pelas capas de revistas ‘photoshopadas’, se passamos a acreditar que não temos o direito à felicidade e a realizações porque não nos enquadramos em um padrão estético de beleza? Que liberdade é essa pela qual lutamos se hoje somos reféns dos medos e angústias que permitimos se instalarem em nós, advindos da discriminação pelo tamanho do nosso corpo?  Que tipo de liberdade pensa que exerce se você mesma não se respeita ao não se dar o direito de ser simplesmente você, com todos os seus defeitos, qualidades e gordurinhas extras?
A mídia massacra, mas você se deixa massacrar. Fica sonhando com o corpo magro da atriz famosa, fazendo dele o ponto central da sua vida. O companheiro que te ama, os filhos maravilhosos que possui, o trabalho enobrecedor que exerce, a saúde em perfeito estado parecem não ser suficientes para te fazer feliz, porque passou a acreditar que quem é gordo não tem direito à felicidade. Da liberdade conquistada de poder ir e vir, de exercer o papel de mulher na sociedade moderna, tornou-se prisioneira do preconceito contra si mesma. E agora, para se livrar desses grilhões, o que você vai queimar em praça pública?


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