Se você acha que o sonho de consumo de milhares de mulheres é fazer seu corpinho caber em uma calça número 36/38 está redondamente enganada. A onda agora é vestir peças "triplo zero", o que aqui no Brasil corresponderia mais ou menos à numeração 30. O nome dado é em decorrência ao já existente "zero zero", criado há oito anos pelos americanos. Estas peças com a nova numeração [triplo zero], a título de curiosidade, estão sendo comercializadas em lojas americanas mundialmente famosas, como Abercrombie e Fitch. A mesma da polêmica envolvendo os consumidores gordos e feios.
Para se ter uma ideia do tamanho dessas roupas, minha sobrinha Valentinna que vai completar seis anos de idade é uma menina bem magra e tem uma cintura que mede 50 centímetros (cm), apenas 8 cm a menos do tamanho que uma pessoa adulta precisa ter para vestir peças tamanho triplo zero. Para ficar mais claro ainda e não restar dúvidas, normalmente, quem possui 58 cm de cintura são meninas entre 6 e 8 anos de idade.
Parece absurdo, mas a obsessão por ter um corpo cada vez mais magro faz com que mulheres com curvas poderosas, como as cantora Beyoncé e Nicki Minaj, se tornem gordas, se comparadas a um manequim número 30. E ao considerarmos, por exemplo, as diversas culturas existentes no mundo, e de como elas enxergam o que é bonito, talvez tivéssemos inúmeros padrões de beleza espalhados por aí. Ou quem sabe, se o foco fosse mesmo a saúde, não teríamos um número tão expressivo de anorexia e bulimia existentes no mundo.
Tudo em função da busca pelo corpo "perfeito" que, aparentemente, não é perfeito nem para quem já é suficientemente magro. E, infelizmente, mais e mais mulheres ficam neuróticas com os seus corpos e começam a se autodepreciar, a se sentirem feias (mesmo sendo lindas!) e a se verem cheias de defeitos. Não é para menos, pois suas musas inspiradoras - cantoras, atrizes etc - possuem o tal corpo idealizados por muitas.
Então, essas meninas iniciam dietas da moda e se agarram em procedimentos estéticos perigosíssimos, como se isso fosse fazê-las tão magras, famosas e felizes quanto as celebridades que elas cultuam em suas mídias sociais. Mas, a culpa seria das celebridades? De certa forma, de acordo com especialistas, as "beldades" sabem que as fotos que mostram seus corpos muito magros e secos causam comoção, rendem compartilhamentos. E todos sabemos que os fãs se espelham em seus ídolos.
Entretanto, o grande problema não é a "celebridade" em si. Elas vivem de sua aparência para fecharem cachês milionários e se tornarem espectros humanos. O problema, de fato, são as milhares de mulheres - cujo biotipo não se encaixa na magreza excessiva - desejarem o mesmo. Além disso, sinceramente, não consigo entender onde está a responsabilidade social das empresas que, digamos, "odeiam" os gordos. Afinal, para eles, gordo representa doença. Sendo assim, vinculam suas marcas às modelos anoréxicas e bulímicas.
No fundo, no fundo, a verdade é uma só: lembre-se sempre que mesmo que você fosse perfeita para esses tais padrões, ainda assim, de alguma maneira, fariam com que você se sentisse imperfeita. Porque se quiser continuar se culpando por não caber em uma calça 38 e, provavelmente daqui algum tempo numa 30, sinto muito por você. Eu já me culpei demais nessa minha vida por não caber nessas roupas criadas por gente que nem sabe o meu nome, meus sonhos e meus desejos. Se soubessem, com certeza adaptariam as peças a mim e não ficariam me forçando a ter que me adaptar a elas.
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